Thursday, 15 May 2008

love


Fomos para o quarto de mão dada. Ela sentou-se na beira da cama, e eu despi-a. Quando lhe beijei o pescoço, puxou-me para si. – Não me interessa o que vamos fazer – segredou-me. – Não é preciso fazermos nada. Só quero ficar abraçada a ti. – Meteu-se debaixo dos cobertores e ficou de joelhos encolhidos enquanto eu me despia. Quando me deitei, pôs os braços à volta do meu pescoço e puxou a minha cara para junto da dela. Sabia que eu era louco por estar assim aninhado. Fazia-me sentir que pertencia a alguém, que tinha raízes, que era bem-aventurado. E eu sabia que ela adorava fechar os olhos e que lhos beijasse, e depois o nariz e as maçãs do rosto, como se ela fosse uma criança à hora de ir para a cama, e só por fim os lábios.
Condenávamo-nos muitas vezes por perdermos tempo sentados em cadeiras, todos vestidos, a conversarmos, quando podíamos fazer o mesmo deitados na cama, virados um para o outro e nus. Nesse tempo precioso antes do acto sexual, mal servido pelo termo pseudoclínico de preliminares, o mundo ficava mais pequeno e mais profundo, as nossas vozes afundavam-se no calor dos nossos corpos, as conversas tornavam-se associativas e imprevisíveis. Tudo se resumia a contacto e respiração. Ocorriam-me certas frases simples que não dizia em voz alta por soarem tão banais – cá estamos nós, ou isto outra vez, ou sim, isto. Como um momento num sonho recorrente, esses minutos compridos e inocentes eram esquecidos até voltarmos a mergulhar neles. Quando voltávamos, as nossas vidas regressavam de novo ao essencial e começavam outra vez. Quando ficávamos em silêncio, estávamos tão perto um do outro que as nossas bocas ficavam quase encostadas, protelando a união, que nos ligaria ainda mais fortemente devido a este prelúdio.


Ian McEwan, O fardo do amor

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